Paixão pela leitura!

Quanto Vale um Poema?

“Alguém sabe quanto cobrar por um poema?” — essa pergunta apareceu mais de uma vez nos grupos de autores e nunca vem sozinha. Por trás dela, está uma série de outras: Posso cobrar por algo tão subjetivo? Tem gente que vai pagar? Meu poema vale isso mesmo? A verdade é que não existe uma tabela fixa — mas isso não significa que não vale nada. Muito pelo contrário.

Neste texto, vamos pensar juntos como se calcula o valor de um poema — não só no dinheiro, mas também no tempo, no impacto e no reconhecimento. Porque se a poesia é arte, ela também é trabalho. E trabalho, mesmo quando feito com amor, merece ser remunerado.

A primeira armadilha está aqui: o poema é visto como “coisa de coração”, de inspiração, de dom — e aí, quase sempre, surge a ideia de que não se deve cobrar por isso. Mas o que esquecem é que o dom é só o começo. Por trás de um poema de três estrofes pode haver anos de leitura, dias de reescrita, noites sem sono e uma vida inteira de escuta.

Valor simbólico não anula valor financeiro. Um poema pode ser precioso para quem lê e, ainda assim, ser vendido. O erro é achar que “importância afetiva” e “comercialização” são opostos.


Uma forma justa de começar a precificar é pensar: quanto tempo de trabalho esse poema exigiu? E esse tempo inclui:

  • Criação e escrita
  • Revisão e reescrita
  • Diagramação ou edição, se for em formato gráfico
  • Troca com leitores beta ou revisão crítica
  • Tempo investido em formação como escritor

Mesmo que o poema pareça “rápido”, o acúmulo de experiência conta. Uma médica não cobra só pelos 15 minutos da consulta — mas pelos anos de formação. Com poesia, não deveria ser diferente.


O valor de um poema também varia de acordo com o tipo de uso e a finalidade. Veja alguns exemplos:

  • Poema encomendado para um evento: entre R$ 150 e R$ 500
  • Poema para integrar campanha institucional (ONG, projeto, marca): entre R$ 300 e R$ 2.000
  • Poema vendido como obra visual ou presente artístico: valor variável conforme tiragem e formato
  • Poema para livro coletivo ou antologia independente: às vezes o valor é simbólico ou revertido em exemplares
  • Poema exclusivo para presente personalizado: pode ser avaliado como peça única

Esses valores não são absolutos — são referências. Você pode (e deve) adaptar à sua realidade.


Talvez alguém diga que ninguém paga R$ 200 por um poema. Mas a pergunta certa é: será que você está mostrando para as pessoas certas? Poemas vendidos diretamente para um público que valoriza arte e literatura têm outro alcance. Assim como pessoas contratam retratistas, músicos ou ilustradores, também contratam poetas.

O segredo é valorizar seu trabalho antes que os outros façam isso. Porque se você não acredita que vale, fica difícil convencer alguém de que vale.


  1. Crie uma tabela base de valores, mesmo que simples. Isso te ajuda a responder com confiança quando alguém pergunta.
  2. Considere o tempo de entrega e o nível de personalização.
  3. Pesquise o público e o orçamento disponível. Nem todo projeto pode pagar o mesmo — mas dá pra negociar sem se desvalorizar.
  4. Inclua no preço: tempo de reunião, revisão, ajustes e entrega.
  5. Ofereça formas acessíveis de pagamento, como Pix, parcelamento ou bônus (um cartão impresso, um áudio gravado, etc.)


Um poema pode mudar o dia de alguém. Pode transformar uma campanha. Pode eternizar um sentimento. Pode até, em silêncio, salvar uma vida. Isso não tem preço — mas tem valor.

E se ele tem valor, então cobrar por ele não é feio, nem ganancioso. É justo.
A poesia continua sendo poesia — mesmo quando gera renda.

Afinal, como diz aquele velho verso adaptado:
“Se é pra sangrar, que paguem o curativo.”

*publicado originalmente na revista literária Toma aí um poema

 

 

Autor

  • Escreve poemas, contos, crônicas. Publicou os livros "Dizerodito - poemas", "Breves cartas de amor", "O que faço com esses versos de amor?", "Eu tenho um segredo para as suas lágrimas - Poesia infantil para adultos lerem", "O Caderno de Benjamim" Nascido na Cidade de Monte Alegre - Pará, mora na capital Belém.

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