“Sou um barco à deriva na preamar.” em “O último náufrago” do também poeta Helder Bentes

Sou um barco à deriva na preamar. 
Nuvens cinzas ofuscam de expectativas meu horizonte.
Não tem bote salva-vidas, não tem nada ...
Tem memória erótica por trás dum monte.
Tem certeza de um amor sentido.
Tem memória d’outro amor partido.
Tem a proeza de se ter vontade,
sem saber para que serve isso.
Tem sinais de floresta cor de gorgonzola,
fungo esverdeado por trás da neblina.
Tem pássaros lindos numa gaiola,
memória de meus sonhos de menina ...
Da tempestade,
a criança que fui dá-me um adeus tão sofrido,
tão dolorido,
tão escondido,
que a emoção pueril salga o mar
doce de paladar atroz.
A tempestade acalma-se sem nenhum milagre.
Não era prodígio,
era drama.
Espera, mendigo,
a dama.
Primeiro os abutres,
depois ela,
depois comigo,
e só depois contigo.

***

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