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T. S. Eliot – “Os Homens Ocos” (tradução de Ivan Junqueira) | Ver-O-Poema

T. S. Eliot - Os Homens Ocos - Ver-O-Poema

T. S. Eliot, pseudônimo literário de Thomas Stearns Eliot, nasceu em St. Louis, Missouri (EUA), em 1888. Estudou na Universidade de Harvard, onde concluiu o curso de Filosofia, em 1910, e prosseguiu com o doutorado na mesma instituição. Ainda jovem, tornou-se uma das vozes mais influentes da poesia moderna, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos.

Além de poeta, foi ensaísta, crítico literário e dramaturgo, autor de peças como Assassinato na Catedral (1935). Em 1914, Eliot mudou-se para a Inglaterra e, após o início da Primeira Guerra Mundial, lecionou filosofia em Oxford. Tornou-se cidadão britânico em 1927. Sua obra, marcada pela densidade simbólica e pela fragmentação da experiência moderna, redefiniu a poesia do século XX. Em 1948, foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura.

A seguir, apresenta-se o poema “Os Homens Ocos”, escrito em 1925, em tradução de Ivan Junqueira, publicada em Escritores em Ação, coordenação de Malcolm Cowley (Literatura e Teoria Literária, vol. 15, Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1982).

OS HOMENS OCOS

T. S. Eliot

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada.
Fôrma sem forma, sombra sem cor,
Força paralisada, gesto sem vigor;
Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam — se o fazem — não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos,
Os homens empalhados.

II

Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte,
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna,
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frêmito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.

Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte.
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces:
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas,
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta —
Nem mais um passo:
Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular.

III

Esta é a terra morta,
Esta é a terra do cacto,
Aqui as imagens de pedra
Estão eretas; aqui recebem elas
A súplica da mão de um morto
Sob o lampejo de uma estrela agonizante.
E nisto consiste
O outro reino da morte:
Despertando sozinhos
À hora em que estamos
Trêmulos de ternura,
Os lábios que beijariam
Rezam as pedras quebradas.

IV

Os olhos não estão aqui,
Aqui os olhos não brilham,
Neste vale de estrelas tíbias,
Neste vale desvalido,
Esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos,
Neste último sítio de encontros
Juntos tateamos,
Todos à fala esquivos,
Reunidos na praia do túrgido rio
Sem nada ver, a não ser
Que os olhos reapareçam
Como a estrela perpétua,
Rosa multifoliada
Do reino em sombras da morte,
A única esperança
De homens vazios.

V

Aqui rondamos a figueira-brava,
Figueira-brava figueira-brava,
Aqui rondamos a figueira-brava
Às cinco em ponto da madrugada.

Entre a ideia
E a realidade,
Entre o movimento
E a ação,
Tomba a Sombra.
Porque Teu é o Reino.

Entre a concepção
E a criação,
Entre a emoção
E a reação,
Tomba a Sombra.
A vida é muito longa.

Entre o desejo
E o espasmo,
Entre a potência
E a existência,
Entre a essência
E a descendência,
Tomba a Sombra.
Porque Teu é o Reino.

Porque Teu é,
A vida é,
Porque Teu é o —

Assim expira o mundo,
Assim expira o mundo,
Assim expira o mundo,
Não com uma explosão, mas com um suspiro.

Tradução de Ivan Junqueira

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