Filoesia / Ato / Observo

por Carlos Pessoa Rosa

Pintura de Emerson Persona — composição surreal
Pintura: Emerson Persona

Filoesia

o corpo frio
representação no espaço
não dança
não canta, é silêncio
é corpo-morto
assim permanecesse
eternamente
que por si a natureza
se daria conta
e sobreviveria o planeta
mas perversa
a casualidade original
ao dar voz
movimento e vontade
consciente
a um móbile de cordas
a que parte do corpo
corresponde essa vontade destrutiva
nesse boneco destrutivo
de caráter?
: não me pergunte
os motivos dessa força natural
e cega (?

Ato

a planta em si é um ato
sem segredo ou dissimulação
não há pudor a esconder o sexo
o ato é exposto ao ar livre
e ela revela-se em total gozo
ao casal que castra o fogo
em juras de amor eterno
e as mãos trêmulas no sexo

Observo

eu não prescrevo
apenas observo o entorno
e ausculto interiores
não como faz a filosofia
que tudo teoriza
eu apenas me abro ao ócio
nada desvendo ou crio
como disse: observo, apenas
e se algo me escapa
é como vento surgido do nada
a soprar nas árvores
pois o saber não me serve
dele quero distância
de mim não sairão atos ou mundos
não haverá nas palavras
algo que porventura lhes sirva
em pratos rasos
não haverá devires
acontecidos ou por acontecer
que esta é a Vontade
poetizar abissal sobrenadante
arte parida do nada
tal qual o nascimento e a morte
ninguém sabe
a que veio o sujeito adormecido
na calçada
quem é?
a que veio esse corpo pulsátil
e desprovido – temporariamente –
de individualidade

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