
Quase um anjo
Se impressiona
Com a luz celestial
Tranquilidade meditativa
Quer se convencer
Que é humano
Precisa da lente de diminuir
Para ser grande na tela
O cosmo o envolve
como a coberta do bebê
Quer ver a si próprio
Seu movimento interior
Ontem alegria
Hoje dor
Seus ciclos de cor
Ausência de limites nas Margens difusas
Respeita
O que não entende
E passa
Com a taça de água
Que se repete em sede
Liberdade
Com que excede a si
Na fronteira
Da existência humana
Se pintasse hoje
Seria azul escuro
Ontem amarelo radiante
Entre seu lençol vermelho
Agonizante
Mancha no tempo cinza
Que se esvai
Em corredeira de vento
Nesta noite
Usaria preto no cimoComo água tormentosa
Em noite sinistra
Atormenta-lhe a sombra
Dos jogos malditos
O descaso da sua presença
Sua inexistência
Tinto na cor do invisível
Que nem nada é
Nódoa
Óleo pegajoso
Que se desgruda
Da superfície da vida
Ectoplasma dos loucos
Que o assombram
Com pinta de sãos
A olorosa alma é a dele
Não se adere ao mundo
Lava-se repetidas vezes
Na água da bica
Deseja transparência
Luminância
Desponta-lhe asas
No coto do desejo
Se vê a distância
Quase um anjo
E brilhaAs Coisas
Bebeu devagar
O copo de nada
Para não acabar depressaAs coisas dormem
No quarto
Décadas de não - existência
Encerradas na tumba
Dos afetos esquecidos
Em seu destino de coisasDesliza em si
Um suspiro de solidãoAs rugas
Seus cabelos brancos
Dizem - lhes durma
Mas o olho
Do fantasma voyer
À espreita no buraco
Da fechadura
Rouba - lhe o sonoA flor de veludo
Centro negro
Pistilos dourados
Se oferece ao olhar
Louca no resgate
Da beleza e seus encantos
Deusa à espera
De ser admiradaTenta um vôo longo
Descerrando a noite
Pela janela
Precisa do ar
De menos coisas
Um largo sorriso de luaEstrelas estreiam o tempo Em anos luz
Damas da noite
Tomam o ar com perfumeQuer cintilações
Magnetismo
Menos elegância
Olhares vivos
A pegada nas coxasO que vê
É a imagem do orgulho
Desfigurada pelo tempo
O que luzia hoje é pó
Espelho de saudade
A que as coisas
Se prestaram um diaToma um gole de alegria
Deseja impulso
Um ato de amor à siNão entende
A matéria que destrói a vida
Sufoco do excesso
Loucura do consumo
Não exorcizadoCalça as botas
Se enrola
No cachecol colorido
e saiAs coisas
São simplesmente coisas
Em sua permanência
De durante

Um dia quis ser rio para guardar
a memória da terra no amor que transparece/
viajar paisagens líquidas roçando
areias que movem meus sentidos turbulentos /descansar em remansos vivos e
ali, só ali , sozinha conversar com Deus.
EssênciaNada pode resistir
Ao centro presente
no umbigo
Ser e estar
onde a vida se faz quente***
Busca por ti
em teus passos
no enredo do caminho
És o embrião
de teu parto
Renascerá como o verde
puro e fresco
a orvalhar a madrugada***
Letras perdidas
Procuram palavras
Para acariciar a bocaConjugam o verbo
Amar
em loucas escalas do desejoA noite , folha cor de carbono
imprime versos de todas
as audácias originais
em abrigo
No coração fechado***
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Autor
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Cristina Siqueira assina os livros de poemas: Papel, A carne da noz, Por trás dos muros e Prisma – livro de entrevistas, coletânea de matéria jornalística. Articulista do jornal O Progresso de Tatuí durante 12 anos, é curadora e autora do Projeto Livro de Rua. Nesse projeto Cristina transformou o espaço-cidade com poemas escritos nos muros, uma obra aberta com páginas desencadernadas em vias de leitura. É a autora do CD “Se houvesse amor a vida seria carícia”, lançado nas cidades de Coimbra, Paris, Córdoba e Granada. Além de escritora, poeta e dinamizadora de projetos culturais, Cristina é professora com formação no Método Montessori e acabou se consagrando ao universo da literatura. Escreve poesia, contos e crônicas e alimenta diariamente suas plataformas sociais. A convite de secretarias de cultura, universidades, escolas e empresas promove oficinas de literatura e ministra a palestra “A poesia como instrumento de transformação social e humanização”. Colabora com publicações em revistas culturais do Brasil e do exterior. Clique no link para acessar o portfólio da escritora. Portfólio- edital 20.2024