
“Que a dúvida não me sirva de algema, que o sentimento não seja desvio, que os meus olhos jamais deixem de ver o sonho da razão com as tundras da ternura, sendo a mutação a cada momento, que eu possa sentir-me plenitude apenas quando me aproximo de outra alma”.
Na subida, sujou de céu as palavras e libertou, na geometria voraz da linguagem, suas lágrimas azuis, sua incompletude e significabilidade unindo-se, perpetuamente, ao desconhecido – ele queria o coração antes daqueles erros.
O silêncio, atônito, o insulta com seu obscuro e inexorável raiar cromático, e avança em forças, num jogo rítmico de uma antecipação oscilante, de outras perplexidades e visões, cena que a cratera esvazia na fusão dos espaços, vindo à tona para respirar o caos, o turbilhão contundente e indefinível, porque nada está dividido na sabedoria de não conhecer a correnteza cósmica de todas as coisas e de todos os seres. “A manhã está gélida, mas somente até que o sol a destroce”.
Imagina o inimaginável. E é ali que Jose Maria escreve, e escreverá sempre, o que seria o fogo sobre o não ver – a cicatriz de um futuro que se atrasou na urgência de ouvir o que inexiste e se encontra no desaparecimento da luz embrionária, da hora mágica imergindo em vagas, novos pássaros, novas sementes – sua voz irreverente a nascer na falha, no sangue calado, à sombra solícita das estrofes, onde o instante não se mente por que se incrusta numa folha inacabável.
Textos do livro “Vozes & Recortes” – contos – Editora Penalux -2015
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